Provavelmente você nunca de ter ouvido falar em engenharia do consentimento, mas certamente vai reconhecer seu funcionamento depois que souber um pouco mais do que se trata, e de como isto influencia em suas opiniões e modo de ver o mundo.
A engenharia do consentimento é uma ferramenta amplamente utilizada para direcionar a opinião pública sobre determinado tema, valendo-se para isto dos mecanismos de funcionamento mental mais básicos, como empatia e medo, para criar engajamento do indivíduo em relação a um grupo, ou a um tema que interesse a este grupo. Parecem aqueles enredos de filmes de conspiração do começo dos anos 2000, mas na verdade é algo de que se tem notícia desde o início dos anos 1900, tendo maior uso (e sucesso) após os anos 50, fundando as bases para o que hoje chamamos de Marketing.
Porém, esta forma de manipular a opinião pública toma cada vez mais o interesse dos pensadores atuais tendo em vista seu poder cada vez maior sobre um público cada vez mais polarizado. Um exemplo é o internacionalmente respeitado linguista Noam Chomsky, que retrata o efeito deste formato discursivo em seu livro “Mídia, Propaganda Política e Manipulação”, além disso você também pode se aprofundar no assunto através de seu documentário “O fim do sonho americano” (abaixo) Ou então em “O Século do Ego” dirigido por Adam Curtis para a BBC.
Mas, e como fica o questionamento inicial de se você é dono de sua própria opinião?
Bem, para explicar como é possível direcionar a opinião das pessoas diante de uma situação, fiz um rápido experimento utilizando o Instagram (@danielrbranco), no qual foi explicado como a manipulação acontece e logo após duas fotos foram postadas com uma pergunta. Como nos dias desta postagem (e ainda hoje) a situação na Venezuela tomava conta de todos os noticiários, usamos este tema para formular duas questões diferentes.
Segue abaixo a explicação que foi postada antecedendo as imagens, que aqui se presta também a falar um pouco mais da tal engenharia para criar engajamento:
“Uma das formas de manipular a opinião pública é alterar o sentido de um significante como, por exemplo a palavra guerra. Se perguntarem a você se apoia a guerra na Venezuela, ou uma intervenção armada, há grandes chances de que diga que não, mas se perguntarem se apoia uma ajuda humanitária, existe um apelo à empatia pelo sofrimento (neste caso real) dos povos do local e por isso, aumenta-se muito as chances de o indivíduo dizer que sim, apoia a ação do Estado. O mérito neste exemplo, não é se a Venezuela precisa de ajuda, mas sim faz com que as medidas para esta ajuda não sejam questionadas pois, ninguém questionaria uma ajuda humanitária. Todos os meios de comunicação insistem no termo, insistem na sua necessidade urgente, repetem a ideia até que a população “espontaneamente” esteja pedindo pela ajuda humanitária que pode resultar, na verdade, na intervenção armada que era o sentido original da proposta. Apenas após isto, surgirão dados que questionarão por que a ONU não participou, porque o grupo menos belicoso que se reuniu em Montevidéu não recebeu atenção da mídia? Quais os reais interesses norte-americanos na Região?
Esta manipulação, que faz uma apreensão do sujeito, impede que este faça questionamentos básicos e simples sobre a situação que se apresente em sua realidade cotidiana. Não por falta de inteligência, mas porque outros mecanismos psíquicos tomam conta de seu pensamento. Outros exemplos? Parear a imagem de feministas à da bruxa (veja artigo na revista Cult), pessoas de postura progressista com terroristas, etc…”
Após esta explicação, foram postadas as duas enquetes, na sequência que seguem aqui, após a frase de introdução: “Ok, vamos testar como isto funciona?”.
O engajamento para o “experimento” foi alto, atingindo em torno de 1200 usuários do aplicativo que seguem o perfil. Percebam que, mesmo após a explicação do que seria feito e o aviso de que isto seria um teste para saber se aquilo que foi dito realmente teria efeito apenas com a mudança do sentido dado pela escolha de palavras e imagens, a adesão ao SIM foi muito maior na primeira imagem do que na segunda.
Mas, como isto é possível se o raciocínio e a lógica são as mesmas? Como é possível uma mudança de opinião de praticamente 50% dos votantes no período de 15 segundos entre uma imagem e outra?
Apesar disto ser apenas uma brincadeira, não se tratando de um experimento controlado, é capaz de levantar algumas ideias interessantes sobre como o aparato de Estado (e certamente também de mercado) conseguem induzir a resposta da população frente a uma decisão. A simples mudança de palavras e imagens é capaz de direcionar o que as pessoas pensam sobre determinado assunto, apoiando muitas vezes posturas das quais nada sabem, ou para aquelas que não buscaram saber sobre sua História e quais as motivações dos personagens envolvidos em cada lado do espectro.
Não há uma resposta definitiva de como lidar com este fenômeno, mas uma boa pergunta pode ser melhor do que uma resposta parcial, por isto, sempre que for apoiar algo (ou alguém) sem saber com alguma profundidade sobre o assunto, pergunte-se: “Você é dono de sua própria opinião?”.