Um artigo publicado em 2008 por Berman, Jonides e Kaplan já demonstrava que caminhar pela Natureza, longe dos estímulos urbanos, traz benefícios cognitivos como restauração de algumas capacidades essenciais à memória e ao foco. Depois disto, vários outros artigos foram publicados indicando benefícios para auxílio no tratamento de ansiedade, depressão e bipolaridade, alguns com resultados bastante promissores (sem, contanto, dispensar o tratamento Psi).
Provavelmente, quem já teve este tipo de experiência de desligamento do fluxo cotidiano concorde com estas pesquisas. Com a procura cada vez maior de pessoas por esportes na natureza, mais dados tem sido produzidos corroborando a hipótese de que o contato com o mundo natural traz benefícios à saúde além da atividade física em si. Mas, apesar de relevantes, estes dados merecem levantar outra questão. Que direção nossa sociedade está tomando, que o dia a dia passa a ser considerado tóxico, a ponto de necessitarmos de momentos de fuga para restauração de capacidades mentais básicas?
Os movimentos como das Slow Cities (que se inspiraram no Slow Food) perceberam isto já há algum tempo e “desaceleraram” o ritmo, afim de permitir maiores laços entre os indivíduos, maiores laços comunitários e… (surpresa!) melhor qualidade de vida.
Portanto, fugir para a natureza pode ser um bálsamo para o aceleramento, assim como para as cobranças da “vida”. Mas, quem sabe, da natureza podemos trazer o sossego, o equilíbrio e a sustentabilidade para nosso dia a dia. Sustentabilidade de retirar/produzir aquilo que necessita, consumir o que é necessário e não mais pois, mais, nestes casos, significa mais custos, mais trabalho, mais cobranças, mais sofrimento. Este “mais”, que não tem fim, significa a entrada no tóxico ciclo que gasta o planeta, consome o sujeito e desgasta relações e comunidades.
É possível que a solução esteja bem diante de nossos próprios olhos e que, com menos e não mais, o dia a dia poderia ser menos tóxico, para que a Natureza possa ser uma opção de encontro constante, e não de fuga desesperada.