Escutar o Sintoma: Escutar o Sujeito

 

Quando Lacan, em seu seminário de 1971, anunciou que falaria de um discurso que não seria o seu, tampouco do indivíduo, reforçava a ideia freudiana de que a concepção de sujeito* para a psicanálise requer considerar que este não é possuidor do discurso, mesmo que, determinado por ele. Isto quer dizer (entre outras coisas), que o Eu não é totalmente senhor de si, pois há acontecimentos que permanecem além da consciência mas aos quais o sujeito permanece respondendo, se adaptando, resistindo e que, algumas vezes, por não ser um sistema perfeito, acusam conflitos que se apresentam  como sintomas.

Sem adentrar em questões da psicopatologia, que exigiriam classificar e nomear tais sintomas, vamos pensá-los, de forma ampla, como aquilo que gera sofrimento. Mas, atenção leitor, pois a quebra de paradigma que Freud apresentou é que tal sintoma não é um acontecimento aleatório (embora possa contar com estes), mas sim um acontecimento que tem uma função e, vai além, pois afirma que esta função tem, em sua gênese, a “chave” para “quebrar o código”, a solução para diminuir o sofrimento.

Mas, como seria operar de forma contrária? Neste caso, Alfredo Jerusalinsky, ao falar de como a psicopatologia procura toda explicação em uma causalidade orgânica, ou em um déficit cognitivo, acaba por não questionar o sintoma, não investigar “o que quer dizer este ponto, esta palavra ou este gesto fora do lugar […]; é assim que os problemas deixam de ser problemas para serem transtorno. É uma transformação epistemológica importante, e não uma mera transformação terminológica. Um problema é algo para ser decifrado, interpretado, resolvido; um transtorno é algo a ser eliminado, suprimido porque molesta” (Jerusalinsky, 2011, p. 238).

Portanto, esta distinção não é puramente um exercício teórico, já que é através dela que a direção do tratamento em psicanálise se distingue do campo geral das psicoterapias, como Freud aponta em seu discurso de 1905: “A terapia analítica não deseja acrescentar ou introduzir algo novo, mas sim retirar, extrair, e para isso cuida da gênese dos sintomas doentios e do contexto psíquico da ideia patogênica, cuja remoção é seu objetivo” (Freud, 1905).

Para ilustrar esta afirmação, Freud lança mão de uma analogia. Nesta, o método do tratamento analítico consistiria em retirar camadas para atingir o núcleo do sintoma, como o escultor que retira fragmentos de rocha para revelar o que o bloco bruto estaria encobrindo, em oposto ao método que introduziria algo novo, como um pintor que marca com sua tinta uma tela – que acredita – estar em branco.

Para concluir, podemos perceber que há na ética psicanalítica um apreço pelo mais singular do discurso do sujeito (que não é mesmo que indivíduo), o que não permite que a posição do analista seja a daquele que objetiva determinar a direção do tratamento visando um modo “correto” de atuar no mundo, pois para isto precisaria compreender o sintoma como uma deficit a ser corrigido e não como uma produção que traz, nela mesma, pistas do que há de inconsciente por trás daquele sintoma; pistas que levariam ao saber sobre o sujeito, possibilitando que este passe a se relacionar de uma nova maneira com o mundo. Talvez mais singular, talvez menos, mas certamente, sua.

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PS: Esta distinção é essencial para que a direção do tratamento possibilite gerar os resultados positivos que a literatura tem atribuído à psicanálise. Aliás, há duas excelentes meta-análises que demonstram estes resultados, tanto a médio como curto prazo. Mas isto é assunto para outro texto.

*A definição de sujeito para a psicanálise, assim como sua distinção em relação ao individual, é um tema complexo que remonta às definições de discurso e linguagem. Mais sobre isto pode ser encontrado no Seminário XVIII de Lacan, página 16-17 da tradução brasileira da Zahar.

Referências Gerais:

Branco, D. R. (2014). Dissertação de mestrado: O Sintoma Em Psicanálise: Entre o Corpo e o Sentido. Universidade Estadual de Maringá: Maringá.

Freud, S. (1905). Psicoterapia. São Paulo: Companhia das Letras.

Jerusalinsky, A. (2011). Gostinhas e Comprimidos para Crianças sem História: Uma Psicopatologia Pós-Moderna para a Infância. In: A. Jerusalinsky, & S. (. Fendrik, O Livro Negro da Psicopatologia Contemporânea (pp. 231-242). São Paulo: Via Lettera.

Lacan, J. (1971). O Seminário Livro 18: De um Discurso que não fosse Semblante.. Rio de Janeiro: Zahar.

Houvesse apenas um caminho…

 

Houvesse apenas um caminho, todos os caminhantes se encontrariam, mas não saberiam seus nomes, pois suas vozes seriam a mesma. Escrevi esta frase em um cartão para uma pessoa querida, como forma de desejar que, em seu percurso pela vida, encontre um caminho próprio em meio ao turbilhão de informações e exigências. Parece missão simples, mas nada fácil. Mas, além de ilustrar a intenção de um presente festivo, a frase denota que este tema tem circulado em meus pensamentos com certa frequência; seja por conta das questões que ouço na clínica, de minha área de pesquisa acadêmica ou pelo próprio contexto social deste início de década.

Antes de que o leitor pense que o texto será de cunho motivacional, que não se engane, pois ainda me  parece mais útil exercitar o pensamento crítico antes de interpretar a frase como um convite para que cada um “seja você mesmo”, um pleonasmo inevitável da obviedade. Por isto, trata-se de um questionamento sobre como a tecnologia que nasce para unir pessoas, acabou se tornando, a nível individual, fonte de sofrimento mental, assim como, a nível social, constante preocupação quanto aos impactos negativos sobre as instituições democráticas que dão suporte à civilização.  

Em 2020 George Orwell*, caso vivo, ficaria espantado ao descobrir que seu Big Brother não precisaria espionar ativa e secretamente a vida dos cidadãos, pois todos transmitiriam de forma voluntária sua intimidade e prestariam, sem questionamentos, contas de suas preferências, comportamentos, ideias e ideais, impulsionados pelo desejo algo inconsciente de serem avaliados, homogeneizados e padronizados. O autor de 1984, veria que as instituições de controle e observação seriam obsoletas se comparadas a uma forma muito mais sutil de monitorar, mensurar e direcionar comportamentos sem a necessidade de violência direta, para as quais não houve qualquer imposição de uso, pois todos aderiram solicitamente a seu uso e a alimentam com informações pessoais de bom grado. Orwell certamente se espantaria com o poderio levantado por Mark Zuckerberg, pois aqui já deve estar claro que estamos falando das mídias sociais.

Para jogar alguma luz àquilo que se tornou normal a ponto de não ser mais percebido, é importante entender que as mídias sociais não são um serviço que você utiliza sem custo material. Este custo pode até não ser de moedas que saem de sua conta ao logar em seu perfil, mas é capitalizado em produto ainda mais valioso, ou seja, você paga com sua atenção que será vendida a anunciantes, assim como também paga com seus comportamentos, preferências e padrões de usuário, base de dados a ser utilizada por empresas como a Cambridge Analytica para moldar anúncios e campanhas feitas com precisão, para que você não resista, seja a comprar um produto, ou para alterar intenções de voto de parcelas significativas da população. É o bom e velho ganha-ganha. Claro, para a empresa que pode lucrar tanto com a política de teclado, como com política de Estado.

Mas, esta ainda não é a jogada de mestre desta tecnologia que faz o Big Brother de Orwell parecer um automóvel dos anos 60, barulhento e pouco eficiente, pois o grande salto está no poder de aprisionamento subjetivo ofertado pelas mídias sociais. Perceba o leitor que este aprisionamento não é imposto, pois não existe, como no romance de Orwell, um Partido que obriga o assujeitamento de todos à sua necessidade de espionar e controlar. O verbo aqui escolhido foi ofertar, porquanto trata-se de oferecer as condições, a plataforma ideal  para que a captura aconteça com a solícita participação de todos que, sabendo ou não, doam-se de corpo e corpo aos olhos de cada pequeno (e grande) outro, em via escópica de duas mãos, criando uma constante relação de olhar e ser olhado, desejar e ser desejado a cada deslizada de dedos pela tela. Entrega-se a chave da prisão em troca de likes, retweets e seguidores.

Jacques-Alain Miller** comenta que é o desejo de ser avaliado que dá aos avaliadores poder sobre ao avaliado, aos moldes dos vampiros da Ficção, é necessário convidá-los a entrar. Porém, ao desejar a constante avaliação, dá-se aos avaliadores o poder de extinguir quaisquer possíveis traços diferenciais do sujeito, criando ideais cada vez mais padronizados de felicidade, sofrimento, sexualidade etc. O autor escrevia em 2003, muito antes do advento dos smartphones (que ocorreria por volta de 2007), no contexto das  avaliações de classes profissionais; mas, a estrutura das relações entre o sujeito e os ideais culturais, que Miller levanta neste texto, é aplicável à realidade que estamos aqui discutindo, pois indica o desejo neurótico de ser constantemente aprovado, chancelado pelo amor do Outro***. O que muda, é que a figura do avaliador seria substituída pelo coletivo que dialeticamente avalia, enquanto é também avaliado e direcionado não mais pelas instituições, mas pelos algoritmos que definem o funcionamento das plataformas de usuários.

Mas, não deixai toda esperança, ó vós que logais. Houvesse apenas um caminho, todos os caminhantes se encontrariam, mas se perceberiam sem voz, pois, a angústia de descobrir-se sem nome próprio, andando pelos algoritmos a depender dos likes e visualizações daqueles que tropeçam pelas redes, tem dado espaço a movimentos no sentido de controlar a ferramenta que pretendeu conquistar os artesãos (Mark que se contente). É o próprio mal-estar que nos leva, cada meia-volta da História, a questionar a própria civilização e as trocas que esta exige de seus civilizados indivíduos pois, aparentemente, é preciso perder a liberdade para poder lutar pela mesma. Neste sentido, resta apostar no fracasso desta prisão sem muros criada pelo (mal) uso das redes, que se expressa em forma de sofrimento como o medo de estar sempre perdendo algo (Fear of Missing Out: FOMO). Fracasso que possibilita que sejam criados novos caminhos, novos nomes, novas formas de se caminhar, com passos cada vez menos (algo)ritmados, de forma que seja possível tomar posse dos próprios desejos, sem ignorar a responsabilidade que isto implica. Afinal de contas, é o sofrimento de estar a-sujeitado que possibilita que possa fazer-se um sujeito.

 

 

*George Orwell (1903-1950), escritor, autor do romance distópico 1984.

** Você quer mesmo ser Avaliado? (Miller, J-A., 2003)

***A noção lacaniana de Outro – “grande outro” – trata-se de uma realidade discursiva, pertencente ao registro do Simbólico na qual se supõe a participação de um outro – no sentido de alteridade – mas que não se identifica totalmente a um sujeito.

A Arte de Criar Pedras

 

“A Poesia é como fazer um caminho a partir de uma pedra, e a Análise é fazer belas pedras a partir de um caminho” (Jacques-Alain Miller).

Ao caminhar pela vida, há momentos em que o caminhante enguiça.

Depara-se com um caminho há muito conhecido, já muito trilhado por seus pés; mas que de repente, sem que perceba como isto aconteceu, exige um grande peso a cada passo.

É por isto que Miller fala nesta metafórica pedra como uma produção necessária ao processo de análise. Necessária ao trabalho que aposta em possibilitar ao sujeito voltar a caminhar, mesmo que por um novo percurso, agora adornado por suas pedras, criadas como totens que demarcam suas conquistas.

Mas, criar pedras não é algo fácil, ainda mais as metafóricas! Pois, exige a força para gestar perguntas, mesmo quando buscando respostas. Exige a perspicácia para permitir questionar-se a partir do velho e repetido caminho, questionar-se a partir dos tropeços de rota: O que queres?!

(Daniel R Branco)

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Leia também


Um Mergulho Profundo na Polarização

Muito antes destes turbulentos dias atuais[1]  aumentarem ainda mais a insegurança em relação ao futuro, já se avistavam os sinais de uma grave polarização de opiniões, facilitada por toda a crise política e econômica dos anos anteriores. Este artigo não tem como objetivo apontar culpados ou enveredar na direção de um julgamento político, pelo contrário, pensamos em realizar um mergulho em direção às profundezas dos mecanismos mais básicos da psique humana que possibilitariam a criação e divisão dos discursos correntes em dois polos cada vez mais distantes entre si.

Antes de nosso primeiro mergulho, precisamos averiguar a superfície, ou seja, o que podemos enxergar de mais manifesto sobre este fenômeno sem precisarmos adentrar em um meio diferente do nosso usual.

Por definição, a polarização é um conceito físico aplicado a ondas eletromagnéticas, mas com uso cada vez mais frequente no aspecto social e político. Neste sentido, se trata do direcionamento da atenção, ações e opiniões para lados opostos, em uma polarização como positivo x negativo, ou norte x sul ou direita x esquerda. De fácil utilização, esta manobra é eficaz, tendo em vista que não é de hoje a tendência humana de criar lados – polos – a serem vistos como opostos, visões de mundo ou de moralidade a serem combatidas, dogmas a serem eliminados por sua diferença daqueles aceitos por um grupo dominante. De novo, isto tudo não tem nada…

Mas, os tempos passam e a tecnologia sim, inova a cada dia. Vista como o ferramental que atravessa a experiência humana, ela tem sido, cada vez mais, aplicada ao comportamento. Área onde evoluiu, indubitavelmente, tanto em alcance (internet e redes sociais) quanto em profundidade de atuação (o maior entendimento da mente humana aplicado ao Marketing). Neste sentido, sua atuação fica ainda mais pungente quanto mais alinhada está com elementos estruturantes de nosso psiquismo, ou seja, com processos que são parte de nosso funcionamento normal, necessários, mas que com o conhecimento certo (??) podem ser uma poderosa ferramenta de persuasão de indivíduos e massas.

Neste caso, o que está em jogo quando falamos em polarização do pensamento? Bem, para isto, precisamos começar – do começo – e nos prepararmos para o primeiro mergulho de averiguação das águas.

Um dos pais das Relações Públicas, e grande influência no Marketing, foi o Austríaco/Norte Americano Edward Bernays que, não por coincidência, era sobrinho de Freud. Não coincidência porque as práticas de Bernays utilizavam o entendimento do psíquico para o avesso da ética psicanalítica, ou seja, utiliza o entendimento de estruturas básicas do funcionamento mental para a manipulação e direcionamento da opinião pública.

Bernays, descobriu o quanto informações direcionadas poderiam influenciar o comportamento das pessoas, assim como seus medos e desejos podem ser aliados do mercado quando utilizados para mudar a relação de consumo: da necessidade para a compra pelo simples desejo. Sim, embora pouco conhecido, ele foi um dos precursores desta mudança nos padrões de consumo, gerando o que hoje chamamos de consumismo, para resolver impasses econômicos das aceleradas indústrias da década de 1920 (Curtis, 2002).

É com estes princípios que Bernays cria o que seria chamado de “engenharia do consentimento” (Engineering of Consent), conjunto de técnicas que se baseava no entendimento da Psicologia e Ciências Sociais para direcionar a opinião pública a apoiar ideias ou programas, sejam eles para vendas de produtos, ou conceitos políticos e estatais[2].

Mas, isto é apenas para ilustrar como este desconhecido pai do Marketing era habilidoso em seu labor pois, o grande salto que importa para nosso mergulho, está na aliança de sua engenharia do consentimento com as ideias do pensador político W. Lippmann. Este, entendia que havia uma necessidade das massas – formadas por indivíduos não confiáveis – serem direcionadas por uma elite de pensadores que seriam, estes sim, confiáveis para gerir um país de forma “democrática”.

O que escapa ao mergulhador menos atento e ainda impressionado com a mudança de profundidade, é o fato de isto ser exatamente uma subversão da própria democracia. Pois, se esta é exatamente uma forma de governar representando a vontade do povo, alterando as relações de poder historicamente estabelecidas, sua visão oposta seria novamente voltar a um sistema no qual a vontade do povo é governada, novamente, por poucos. Mais uma vez, nenhuma novidade aqui, governos autocráticos são algo tão antigo quanto a organização dos homens em grupos identitários, mas a grande divertida – no sentido militar de divertire: uma movimentação criada para gerar distração – está no uso do conceito de democracia para manter os indivíduos dóceis enquanto vivem sob uma pseudoliberdade: Alienado e impossibilitado de questionar as relações de poder. Um outro avesso, mas desta vez da democracia.

Certamente que uma postura tal como a do paranoico que está sempre sendo perseguido por uma conspiração não é o objetivo aqui. Antes disso, a proposta é utilizar a engenharia reversa para entender como a polarização está impedindo toda uma nação de pensar coletivamente e avançar.

Para isto, precisamos entender, da mesma forma habilidosa que as agências de marketing político o fizeram, quais os mecanismos básicos envolvidos. Conhecer o que nos influencia é um passo a mais em direção à liberdade e ao conhecimento, necessários para voltarmos a pensar de forma autônoma.

Agora sim, é necessário fôlego para começarmos a investigar águas mais profundas.

Em seu livro “Estranhos à nossa Porta” o Sociólogo Zygmunt Baumann discorre sobre os movimentos migratórios em nosso mundo globalizado, identificando na figura do imigrante indesejado, visto pelos habitantes locais dos países de primeiro mundo como um invasor, como o elemento “estranho” para o qual se direcionam todo um conjunto de medos e inseguranças, externalizados em forma de aversão e agressividade. Esta separação propicia a criação de políticas de separação mútua e distanciamento, “com a construção de muros em vez de pontes” (Bauman, 2017).

A facilidade com que este discurso de ódio aos indesejáveis faz eco, independe do grau de instrução dos envolvidos, pois depende, segundo o autor, do grau de autoalienação que se encontram. Neste caso, a insegurança está mais relacionada à instabilidade e incertezas criadas por seu próprio modo de vida, sua condição no mundo atual, do que propriamente pela invasão de imigrantes. Mas, neste turbilhão, o indivíduo acaba sendo pego pelo discurso mais fácil de encarar, tendo em vista ser mais fácil projetar a causa do próprio sofrimento no outro, do que se responsabilizar e contextualizar sua própria condição (Bauman, 2017). Ou seja, ignorar as contingências para seguir uma reação de medo e insegurança, direcionados muitas vezes por discursos políticos que se beneficiam desta posição de separação, ou seja, reforçam sua posição com esta polarização.

Mergulhando um pouco mais nas motivações da polarização, podemos observar a própria tendência a manter reprimidas pressões internas que possam causar conflito ao Ego, projetando seu ódio a um equivalente externo.

Em 1919, Freud escreve O Estranho (Freud, 1919/2010) – no original das Unheimliche – texto no qual define o inquietante, o estranho, como “aquela espécie de coisa assustadora que remonta ao que é há muito conhecido, ao bastante familiar” (Freud, 1919/2010, p. 331), para depois analisar com maior profundidade suas características. Ou seja, o inquietante, aquilo que nos causa estranhamento assim o é, exatamente por ter sempre algo de muito familiar.

Utilizando-se, neste trabalho, de uma obra da literatura de Hoffmann intitulada “O Homem da Areia” Freud aponta diversos temas neste conto que são causadores do estranhamento característico daquilo que é inquietante/estranho, mas que em sua análise demonstra as raízes comuns a este sentimento de estranhamento com a angústia do complexo infantil de castração, as reminiscências do narcisismo primário e secundário, ao recuo a fases da evolução em que o Eu não se encontrava nitidamente delimitado em relação ao mundo externo e, finalmente, àquilo que Freud chama de retorno do mesmo, que seria uma repetição não intencional em série (Freud, 1919/2010).

É interessante pensar que é em algumas produções culturais que desejos proibidos poderiam ser atuados simbolicamente ou, no mínimo, de forma mais branda para o indivíduo. Mas aqui, o que nos interessa, é o uso instrumental destes conteúdos reprimidos direcionados a um outro, externo, como por exemplo, o homofóbico que está, na verdade, tendo grandes dificuldades de lidar com seus próprios desejos sexuais conflitantes, mas precisa – para se defender destes próprios desejos – direcionar seu ódio para o mundo externo, para outros que representam seu próprio conflito interno.

Novamente para entender o que está na base deste processo, precisamos dar um último mergulho aproveitando o fôlego que ainda resta ao leitor.

Utilizando a expressão grega Kakon para se referir a um “inimigo interior”, Lacan salienta que há na própria constituição do sujeito uma “fatia” indesejada que precisa ser colocada em um local fora da própria consciência, sem acesso ao Ego, por conta da agressividade que pode gerar, sendo assim mantida inconsciente (Lacan, 1998). Este objeto “mal” constitutivo é segregado no interior do próprio psiquismo, o que não o impede de ter efeito sobre o sujeito, efeito este que pode ser visto, à semelhança do que fala Freud em O Estranho, quando o sujeito ataca com sua agressividade no outro aquilo que é seu: Embora inconsciente, extremamente íntimo.

Certo, podemos voltar novamente à superfície para tomar fôlego e enlaçarmos o que foi visto em termos de constituição do próprio sujeito (Freud e Lacan), ou mecanismos de defesa externalizados (Bauman), com a polarização enquanto formação discursiva.

Se pensarmos em termos de Psicologia do Indivíduo podendo ser extrapolada para a Psicologia de grupos, este movimento de “jogar para fora” o objeto de desagrado interno deve ser visto como uma defesa para manter a estabilidade do Ego. Da mesma forma, um grupo, ao apontar no outro lado aquilo que há de mal, ignorando suas mazelas interiores, torna-se um grupo mais coeso. Não é coincidência Freud ter indicado, em Psicologia das Massas e Análise do Ego, que eleger um inimigo externo é uma estratégia extremamente eficiente e muito usada para unificar um grupo, criando assim uma identidade mais coesa e melhor obediência por parte de seus membros.

Isto se parece com algo que estamos observando em nosso cenário político da atualidade brasileira? Acreditamos que sim! Quanto mais polarizado os discursos se encontram, ambos os lados se beneficiam de uma unidade por parte de seus integrantes, menos questionados são e mais forte se transformam a promessas de que se o “inimigo” for derrubado, tudo irá prosperar. O que fica alienado deste raciocínio é exatamente a possibilidade de uma dialetização do discurso, de modo a construir uma solução coletiva aos modos de uma verdadeira democracia. Ora, isto fica absolutamente vedado, pois podemos aqui dizer que a polarização mata o coletivo ao jogar para fora (para o outro lado) aquilo que o grupo (e o indivíduo) não quer ver em si, tornando tudo o que o outro produz um objeto mal, que deve ser ignorado, odiado e extirpado…

Sim, a polarização destrói a possibilidade da solidariedade entre os seres humanos, e o remédio para esta armadilha não é de simples aplicação. Sua aplicação não é simples pois demanda que, ao invés de procurar fora aquilo que odeia, como é a tendência natural que demonstramos, pelo contrário, precisa realizar a difícil – mas não impossível – tarefa de olhar para si e reconhecer o que vai mal, o que precisa ser mudado para, aí sim,  possibilitar que o diálogo entre os polos possa gerar um novo discurso, um novo movimento que seja, este sim, no lugar da separação improdutiva, dê a gênese à integração criadora.

Referências

Bauman, Z. (2017). Estranhos à nossa Porta. Rio de Janeiro: Zahar.

Curtis, A. (Diretor). (2002). O Século do Ego [Filme Cinematográfico].

Freud, S. (1919/2010). O Inquietante. São Paulo: Cia das Letras.

Lacan, J. (1998). A Agressividade em Psicanálise. Em J. Lacan, Escritos (pp. 104-127). Rio de Janeiro: Zahar.

[1] Este artigo foi escrito durante a crise de abastecimento gerada pela greve dos caminhoneiros na última semana de Maio/2018.

* Tema discutido e trabalhado em grupo durante os seminários mensais do grupo de estudo e trabalho em Psicanálise, Structura, em Curitiba.

[2] Vale pesquisar as intervenções feitas por Bernays em jornais para aumentar as vendas de Bacon, intervenções diretas com o público para inserir as mulheres como consumidoras de cigarros e, talvez o melhor exemplo de sua engenharia do consentimento, o direcionamento que fez da opinião pública quando se deu a interferência Norte Americana na Guatemala em 1954.

Os Riscos do Uso de Medicamentos Benzodiazepínicos

Já ouviu falar em medicamentes Benzodiazepínicos?
Você pode não reconhecer o nome, mas certamente já ouviu falar deles por seus apelidos comerciais, como aquele famoso que começa com Ri e termina com: vo Tril
Estes estão entre os medicamentos mais prescritos no mundo e, segundo alguns estudos, os mais consumidos entre idosos e mulheres. São receitados sob as vestes de solução para o sofrimento humano porém, esta promessa ilusória e esta bilionária indústria escondem um fato pouco animador:
Tamponar ou calar o sintoma quimicamente tem seu custo, e pelo que sugere este artigo canadense, é um alto custo.
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Um estudo canadense fez um levantamento da mortalidade de usuários destes medicamentos dentro de uma população de usuários de outras drogas e dos dados são alarmantes.
Embora não seja um estudo feito com a população geral, o estudo trouxe um alerta, pois o uso dos benzodiazepínicos foi associado a um ALTO ÍNDICE DE MORTALIDADE quando comparado às outras substâncias em abuso.
Link para o artigo:
The Impact of Benzodiazepine Use on Mortality Among Polysubstance Users in Vancouver, Canada (2016).

Mindfulness: Dicas para iniciar a prática em casa e obter os benefícios para sua Atenção e Foco

Mindfulness: Dicas para iniciar a prática em casa e obter os benefícios para sua Atenção e Foco?

Veja estas dicas no vídeo:

 

Vídeo Completo: https://www.youtube.com/watch?v=AAsoM4v13Ww

 

Instagram: @branco_daniel

Lembrando que Mindfulness não é relaxamento, mas este pode ser um de seus resultados. Por isto, sentar-se de forma “solta” na cadeira, ou em posição deitada, vai gerar um relaxamento que dificulta estar presente no momento, perceber a respiração e os estímulos internos e externos… Esta presença sim, é o objetivo da Mindfulness.

Assista o vídeo e dê os primeiros passos, em qualquer lugar, com apenas 5 minutos.

 

O Último Discurso Motivacional: Conheça sua Âncora!

 

Quem nunca se sentiu desmotivado em alguma função, ou quando estava prestes a começar novos hábitos, mesmo que com o objetivo de trazer algo de melhor ou mais saudável para sua vida? É muito comum nestas horas as pessoas recorrerem à discursos motivacionais da internet, na empresa na qual trabalham, ou mesmo à livros de autoajuda. E todos estes podem até injetar algum ânimo na tarefa, pelo menos por um curto período de tempo.

Esta é uma demanda cada vez mais presente na atualidade, com todas as já conhecidas exigências de trabalho, dietas, prática de atividades físicas, gestão financeira, família, vida social ativa, etc… Enfim, todos os marcadores de performance que a sociedade parece impor, e dos quais surge aquela cobrança interna que diz: pobre daquele que não consegue que todos aqueles indicadores caminhem linearmente para uma ascendente constante.

Diante de tudo isto, é natural que a reação mais direta seja a procura por técnicas de motivação e comportamentos que criem e desenvolvam uma excelente performance em todos estes requisitos, exaustivos ou não, preferencialmente sem grandes questionamentos pessoais. Pensar menos e fazer mais!

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E, de fato, existe uma infinidade de técnicas, sejam de gerenciamento do tempo, gerenciamento de tarefas, autogestão pessoal, ou simplesmente técnicas para manter a motivação que podem até induzir a uma pequena dose de euforia (principalmente quando em um grupo). Como uma pílula de cafeína, um estimulante fácil, direto e barato.

Mas, estas técnicas seriam de fato, eficientes? A resposta não será tão direta como se poderia esperar, e talvez não tão motivacional, pois ela depende da situação. Vamos usar uma analogia para ilustrar isto melhor.

Você é um remador e está em sua canoa, tentando colocá-la em movimento como deseja. Mas, a vida de um remador não é fácil, as águas são voláteis e você percebe que suas remadas não estão fazendo você sair do lugar, ou pelo menos não estão rendendo como você desejaria. Claro, o mercado para os remadores é farto e não tarda a te apresentar pacotes de treinamento com novas técnicas de remada que te ensinarão uma nova e revolucionária postura 50% mais eficiente, assim como um remo de fibra de carbono, melhor e mais caro que seu velho remo de madeira, mas que tem maior superfície de contato com a água, mais leveza e vai duplicar sua capacidade de remar; não se esqueça das vitaminas e suplementos, estes sim vão otimizar ao máximo sua remada e preparar sua mente para colocar sua canoa em destaque de rendimento; garantido! Com todos estes novos implementos, você percebe que sua remada de fato melhorou e até rendeu QUASE como você almejava desde o início. Porém, pouco tempo depois, sua percepção muda e você observa que, novamente, não está saindo do lugar. Mas, não se preocupe, pois o mercado vai te oferecer novos produtos motivacionais para que, agora sim definitivamente, você encontre sua remada perdida.

A experiência e ciência da Psicologia, mostram que os discursos motivacionais ou as técnicas de autoajuda e autogerenciamento, realmente têm duração reduzida. O efeito positivo que é relatado em um primeiro momento, em geral, é resultado mais da autossugestão por estar fazendo (ou acreditando fazer) algo novo, do que realmente advindo de uma real modificação no comportamento da pessoa que busca por estas saídas. Ou seja, gera um efeito de curta duração e circunstancial (atrelado ao novo fazer), mas não um efeito duradouro; este sim, chamado alteração de traço, capaz de gerar uma significativa mudança no sujeito.

Mas, então, tudo está perdido e não há saída para mudar um padrão de comportamento, ou criar um novo hábito em prol de uma melhor qualidade de vida? Não é bem por aí, pois existe uma outra forma de abordar a situação, talvez não tão colorida com as promessas que as abordagens mainstream vão oferecer, mas certamente mais eficiente no médio e longo prazo e capaz de gerar um efeito duradouro.

Ainda adotando a analogia da canoa, o que esta abordagem alternativa vai exigir é que o remador pare por um momento para verificar sua canoa. Verificar o que está acontecendo com ela e com o próprio remador que não estão conseguindo sair do ponto A para o ponto B. Neste caso, verificar a âncora da canoa se torna essencial. E o que se constata é que, em geral, a canoa está, de fato, ancorada.  Isto faz com que mesmo a melhor postura de remada, ou o mais avançado remo, não sejam suficientes para fazer a canoa andar (parece óbvio agora, não?!).

Para entender o que faz com que sua canoa não evolua como você deseja, é preciso que você conheça sua âncora!

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Se você está buscando uma mudança, ou motivação para seu trabalho, esta busca em si já é o  sinal de que há algo incomodando, algo está fora de lugar. Por isto, nestes casos, a reação mais comum (mainstream) é entender que existe algo faltando, algo está em déficit e precisa ser corrigido através de uma nova técnica, medicação ou injeção de motivação para que você possa atingir sua nova posição (sair da inércia e praticar atividade física, deixar a desmotivação para tornar-se o vendedor mais motivado e eficiente da empresa, etc…) ou seja, entender que você precisa melhorar sua remada… Mas, e a âncora?

Aqui a analogia nos ajuda a perceber que o problema não á algo que está em falta, mas sim algo que é produzido pelo sujeito, assim como o desconforto é resultado do conflito que esta produção gera. Qual conflito? É provável que não seja possível desvelá-lo de forma direta, por isto, o mais indicado para lidar com a situação é um serio percurso de autoconhecimento, que pode ser alcançado através de uma psicoterapia bem direcionada. Nestes casos, é essencial entender que se trata de lidar com a real situação, pois conhecer sua âncora significa procurar entender e conhecer de perto o que está te mantendo no lugar, para somente assim conquistar o grau de autoconhecimento necessário para poder decidir como irá prosseguir.

Sim, decidir! Pois algo que a cultura do “quanto mais melhor” impede de pensar, é que existe ainda uma terceira saída: a decisão de não sair do ponto A para o ponto B. Conscientemente é possível decidir permanecer no ponto A, ou então criar um novo caminho para o ponto C. Decidir, consciente dos fatores que estão verdadeiramente envolvidos, é o mais próximo que se pode chegar de algo chamado liberdade. A liberdade de poder escolher, sabendo dos pontos positivos e negativos que cada escolha vai gerar mas, consciente do que está decidindo e de suas “âncoras” internas.

autoconhecimento

Conhecer a sua âncora, ao contrário de tentar mascarar a desmotivação com a injeção externa de ânimo, é o investimento pessoal necessário para entender o que está acontecendo que se encontra desmotivado. O que está produzindo esta desmotivação, qual o conflito envolvido e os fatos subjetivos que estão produzindo este “atrapalho” (sintoma).

Conquistando esta liberdade pessoal, é possível sim se beneficiar de todas as técnicas existentes, das tecnologias que suportam o seu fazer e até mesmo, quem sabe, de um auxílio específico de um bom coaching. Mas, para isto, primeiro é preciso a coragem e a ousadia características daqueles que suportam a liberdade de se autoconhecer… Conheça, de perto, sua âncora para quem sabe poder navegar mais livremente pelas águas da vida.

 

O que é Mindfulness?

Desde meu último post sobre como a prática de Mindfulness pode ajudar a retomar a qualidade de atenção, principalmente para pessoas que trabalham com multitarefas (praticamente o padrão da atualidade), muitas dúvidas surgiram, como: Toda meditação é mindfulness, mindfulness é meditação, é ciência, o que é?

A mindfulness é um dos vários tipos de meditação e a mais estudada, com resultados que demonstram uma variabilidade importante de usabilidades, que vão desde melhorar o foco e atenção, rendimento seja no trabalho ou em esportes, até mesmo a auxílio terapêutico no tratamento de depressões e distúrbios de humor.

Confira no vídeo o que é, o que não é e para quê serve.

Esteja presente: desconecte-se!

Você tem dificuldades para organizar suas tarefas diárias? Dificuldades para definir prioridades, ou para manter a atenção por períodos mais longos em uma tarefa?

Se você respondeu que sim, está entre a grande maioria da população que vive conectada. Pesquisadores recentemente relacionaram a atividade de multitarefas diretamente com a dificuldade de focar a atenção e definir prioridades para suas tarefas do dia-a-dia. Multitarefas é a contemporânea necessidade de fazer várias atividades ao mesmo tempo, como estar no trabalho respondendo ao WhatsApp, acompanhando o instagram, checando os e-mails pessoal e do trabalho e ainda com mais duas ou três planilhas de trabalho abertas. A melhor representação, são aquelas várias janelas e aplicativos abertas em seu desktop, ou celular ao mesmo tempo.

A informação valiosa que estes pesquisadores descobriram, foi que a atividade multitarefas “desprograma um aplicativo natural” que nos auxilia tanto a saber o que é prioridade, quanto a manter a atenção focada nesta tarefa. Esta “desprogramação” tem efeitos sérios na qualidade de vida das pessoas, pois atrapalha desde o autogerenciamento (organizar sua vida, seus horários, suas tarefas) até a relação (presencial) com outras pessoas, pois é necessário ser capaz de focar no que a pessoa está falando, em sua tonalidade de voz e expressão facial para poder gerar uma relação empática e agradável. Na falta disto uma mera conversa de 30 segundos é quase uma tortura para se manter atento à outra pessoa… soa familiar?!

A boa notícia é que, de alguma forma, a atividade multitarefas gera um melhor desempenho para responder bem a treinamentos em focar a atenção. Exatamente isto! No estudo, usaram sessões diárias de mindfulness (atenção plena) e os resultados foram promissores. Os participantes que tinham uma rotina com grandes períodos de atenção à multitarefas (talvez o padrão geral na atualidade), tinham os piores resultados em atenção focada, mas também demonstraram uma melhora mais acelerada em sua atenção focada depois de práticas de mindfulness.

Portanto, se você tem dificuldade em definir suas prioridades, em executar uma tarefa complexa com qualidade, dificuldade em estudar ou mesmo em manter uma conversa atenta com outra pessoa, a prática de mindfulness de forma constante, como indicam as pesquisas, trará grandes benefícios para sua saúde mental. Existe um benefício também em procurar se desconectar por períodos específicos, como por exemplo, se distanciar do celular e de outras “janelas” que possam atrair sua atenção para poder focar na execução de um trabalho de forma mais integral, ou mesmo simplesmente fazer o exercício de ler um livro sem qualquer interferência… Esteja presente no que estiver fazendo.

Já pensou em desligar os celulares quando estiver em uma situação social e dedicar sua atenção às pessoas que estão presentes? Sim, é possível, antes dos celulares as pessoas sobreviviam desta forma…

Porém, os resultados desta pesquisa deixam uma outra questão no ar: Será que a forma como utilizamos a tecnologia na atualidade não contribuiu para a enxurrada de diagnósticos de déficit de atenção nos últimos anos? Aguardem os próximos capítulos.

Portanto, desconecte-se da rede e conecte-se com você e com seus semelhantes. Seu cérebro agradece.

 

 

 

 

Referências:

 

1) E. Ophir et al., “Cognitive Control in Multi-taskers”. 2009.
2) Gorman e Gree, “Short-therm Mindfulness intervention reduces the negative attentional effects associated with heavy media multitasking” 2016.
3) Mrazek et al. “Mindfulness Training improves working memory capacity and GRE performance while reducing mind wandering”, 2013.