A Arte de Criar Pedras

 

“A Poesia é como fazer um caminho a partir de uma pedra, e a Análise é fazer belas pedras a partir de um caminho” (Jacques-Alain Miller).

Ao caminhar pela vida, há momentos em que o caminhante enguiça.

Depara-se com um caminho há muito conhecido, já muito trilhado por seus pés; mas que de repente, sem que perceba como isto aconteceu, exige um grande peso a cada passo.

É por isto que Miller fala nesta metafórica pedra como uma produção necessária ao processo de análise. Necessária ao trabalho que aposta em possibilitar ao sujeito voltar a caminhar, mesmo que por um novo percurso, agora adornado por suas pedras, criadas como totens que demarcam suas conquistas.

Mas, criar pedras não é algo fácil, ainda mais as metafóricas! Pois, exige a força para gestar perguntas, mesmo quando buscando respostas. Exige a perspicácia para permitir questionar-se a partir do velho e repetido caminho, questionar-se a partir dos tropeços de rota: O que queres?!

(Daniel R Branco)

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De vales a Picos – A Conquista de Guilherme e Juliana

Algumas experiências de nossa vida fazem uma mudança tão profunda, que quando pensamos nelas, sabemos que é uma divisora de águas. Elas podem ser um grande evento inesperado, uma mudança de condição física ou social, ou simplesmente um novo sentido adquirido em um processo de autoconhecimento. Se terão frutos positivos ou negativos, depende do sentido dado por cada um de nós a estas experiências.

O momento decisivo para o casal Guilherme e a Juliana veio há alguns anos atrás, de forma totalmente inesperada, quando a Juliana começou a apresentar sintomas de uma síndrome degenerativa do sistema nervoso, durante a gestação.

Assustador, não é mesmo? Mas, o que será que eles criaram a partir desta tempestade?

Há algumas semanas atrás, tive o privilégio de participar de uma experiência junto com alguns amigos, na qual o Guilherme, a Juliana e o montanhista profissional Máximo Kausch iriam testar uma cadeira adaptada para uma expedição que levaria a Juliana ao Acotango, montanha de mais de 6000 metros de altura, que fica na fronteira entre Bolívia e Chile.

 

Hey!! Mas, espere aí! Como viemos parar em uma montanha depois daquele assustador diagnóstico?!?!

Para entender isto precisamos contar a história deste singular casal, pois, um dos resultados daquele divisor de águas é um projeto chamado Montanha para Todos. Uma idealização do Guilherme e da Juliana para lidarem com a grande mudança que ocorreu em suas vidas. Por isto, eles nos concederam uma entrevista um pouco antes de partirem para a expedição de ataque ao cume do Acotango, para que a Juliana seja a primeira cadeirante a conquistar uma montanha de mais de 6000 metros.

Juliana e Guilherme

Guilherme e Juliana rumo ao Pico Araçatuba para testar a Julietti (Cadeira Adaptada para Montanha).

 

[Daniel R. Branco]: Podem contar um pouco da história de vocês? Há quanto tempo estão juntos, como começaram a praticar montanhismo?

[Montanha para Todos]: Nós estamos juntos há 13 anos e começamos acampando. Logo no primeiro ano de namoro fomos apresentados pelo meu irmão à escalada em rocha; nos apaixonamos e fomos estudar para aprender a escalar. Após uns dois anos escalando direto vimos que estávamos ficando muito solitários e fomos em busca de conhecer mais pessoas. Como a ideia foi fazer trilhas, conhecemos pessoas muito legais. No fim de semana seguinte fomos subir o pico dos Marins e adoramos a experiência…de lá pra cá, não paramos mais.

[Daniel R. Branco]: Vocês poderiam contar um pouco do adoecimento da Juliana e o processo de diagnóstico? Afinal, é uma síndrome bem rara. 

[MPT]: Foi algo bem rápido e inesperado. No segundo mês de gestação ela começou a sentir as pernas pesadas e os médicos achavam que era uma questão de circulação, porém em um intervalo de 2 meses ela já não tinha mais coordenação das pernas, mãos , braços e a fala ficou arrastada. Por isto, tivemos que começar a fazer uso de cadeira de rodas. Envolvemos mais de 30 médicos, sendo a grande maioria mais voltada para o lado acadêmico e de pesquisa pois estavam mais atualizados às novidades. Logo, enviamos um exame para os Estados unidos e começamos a ter uma forte suspeita de síndrome paraneoplásica, mas precisávamos fazer um pet CT para tentar concluir o diagnóstico, o que seria muito prejudicial para o Ben, então fizemos 3 ciclos de imunoglobulina humana para tentar controlar a piora e começamos uma busca por um hospital e médico que topasse antecipar o parto do Ben para podermos realizar o Pet CT. Conseguimos e antecipamos o parto para 7 meses, logo em seguida pudemos concluir o diagnóstico , degeneração cerebelar paraneoplásica.

[Daniel R. Branco]: Como foi para vocês o processo de e tratamento? E como foi que tomaram a decisão de não parar de fazer o que gostam?

[MPT]: Quando surgiu a suspeita do diagnóstico da Ju, vimos que estava caminhando para ser algo irreversível. Perguntei para Ju o que ela mais gostava de fazer e ela disse Viajar e subir montanha, então fiz uma promessa para ela que onde ela quisesse ir, eu a iria levar. Então, comecei a pensar em equipamentos que possibilitassem leva-la novamente para a montanha.

Inicialmente pensamos em criar uma bicicleta para fazer a carreta austral. Fiz o projeto, mas na metade do caminho surgiu a ideia de levar ela no aniversário para montanha, mas no momento só tínhamos a cadeira normal, do dia-a-dia. Foi muito difícil a subida com a cadeira normal, afinal ela não foi projetada para isto. Foi então que começamos a dar vida à Julietti (nome carinhoso que a Juliana deu para a cadeira projetada especialmente para montanha).

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[Daniel R. Branco]: O que vocês gostariam que as pessoas soubessem sobre o projeto Montanha para Todos?

[MPT]: Gostaríamos que todos soubessem da importância do voluntariado para conseguir manter o projeto ativo, não adianta nada distribuirmos cadeiras Juliettis se não tivermos quem ajudar nas atividades. Outro ponto forte é o pessoal participar e sentir a energia que tem cada atividade. Costumamos falar que é mais gratificante para quem ajuda do que pra quem vai sentado.

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[Daniel R. Branco]: Posso atestar que vi isto acontecer no teste da cadeira Guilherme, realmente todos tiveram uma experiência incrível!

[Daniel R. Branco]: O que vocês gostaria que as pessoas soubessem quando participam de uma trilha com uma pessoa com necessidades especiais?

[MPT]: Do bem que estão fazendo para a pessoa ali sentada, que muitas vezes acha que a vida se limita a hospital, casa e terapias ou, pior ainda, Às vezes acha que a vida acaba quando se tem limitações.

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[Daniel R. Branco]: O Brasil ainda não tem uma cultura de inclusão de PNE em todos os âmbitos, dito isto, há algo no comportamento das pessoas que incomode vocês em relação à Ju?

[MPT]: Uma coisa que incomoda bastante é que quase todo mundo vem perguntar para mim o que a Ju tem. As pessoas têm receio de conversar com uma pessoa com deficiência, acho que isso faz parte da inclusão e temos que quebrar estas barreiras.

[Daniel R. Branco]:Como vocês têm percebido a inclusão da Juliana e da Julietti nos grupos?

{MPT]: É algo muito legal!! Conhecemos as pessoas no dia e em poucos minutos já somos quase íntimos, todos querem ajudar, querem conversar, brincar… A Julietti une as pessoas. É uma verdadeira ferramenta que motiva o trabalho em equipe e exclui as diferenças.

Ah…e é uma fazedora de sorrisos!

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[Daniel R. Branco]:Em nossa cultura (Brasil), como vocês têm percebido a inclusão social de uma pessoa com necessidades especiais?

[MPT]: Ainda falta muito, mas o brasileiro é um povo carinhoso e amoroso. Não está difícil, mas o que falamos constantemente em palestras e eventos é que enquanto as pessoas com deficiência não saírem para a rua, enquanto ficarem escondidas apenas nas atividades de tratamentos, a inclusão não vai acontecer. Precisamos trabalhar a inclusão reversa, e isso só vai acontecer quando as pessoas especiais aparecerem.

Sabemos que acessibilidade é algo que aqui não existe, mas não adianta esperarmos tudo ficar acessível, pois não ficará. Por isso tentamos estimular ao máximo empresas e jovens estudantes para que pensem em soluções, serviços e equipamentos que possibilitem que um local não acessível se torne acessível a grandes intervenções, assim também aumentaremos a inclusão.

[Daniel R. Branco]:E que lugar melhor do que a montanha para demonstrar isto, não é mesmo? Quais os próximos planos de vocês?

[MPT]: Terça 10/07/2018 estamos embarcando para Bolívia para dia 15/07 iniciar a viagem expedição Montanha para todos , dando tudo certo a Ju pode se tornar a primeira montanhista cadeirante do mundo a subir uma montanha com + de 6000 metros de altitude.

Retornando da Bolívia começaremos a morar em nossa caminhonete adaptada, onde pretendemos viajar, durante 5 anos, pelo Brasil e pelo mundo.

Já com a ONG Instituto Montanha para Todos, esperamos em breve contar com vários voluntários para nos ajudar na questão administrativa e ter algumas empresas patrocinadoras para podermos desenvolver novos equipamentos para promover a inclusão e acessibilidade em outros esportes outdoor, assim como distribuir pelo Brasil estes equipamentos para que qualquer pessoa possa utilizar, sem custo.

As cadeiras Juliettis hoje, já são 23 distribuídas pelo Brasil, e queremos até o fim do ano que vem ter pelo menos uma em cada estado.

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No dia 25/07/2018 a expedição alcançou 5800m em direção ao Cume do Acotango.

[Daniel R. Branco]: Vocês gostariam de deixar alguma mensagem para as pessoas que lerem sua entrevista?

[MPT]: A vida pode ser muito boa mesma com limitações. Basta olhar para o que temos e não para o que não temos.

 

Conheça o projeto Montanha para Todos, pode acessar o site http://montanhaparatodos.com.br/ ou os perfis em mídias sociais Fecebook: https://www.facebook.com/montanhaparatodos/ e Instagram: @montanhaparatodos

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Café Baiano em Manhã Curitibana:

Somente mais um café!
Nada de novo, nada surpreendente, apenas aquele espressinho sem personalidade, padronizado no comum do fluxo pressurizado. A vida, planejada no reflexo esfumaçado, segue como um borrão imaginário; nem estranha, tampouco familiar. A miragem destas grandes janelas de vidro, lembram aquelas que um bom esquema óptico poderia reproduzir no vazio;tão reais, mas nada palpáveis em profundidade.
Por que é tão difícil abrir mão de métodos tão fracassados, repetitivos, com este descontentamento que só se percebe no retrogosto?Não, há substância fora do reflexo! Existe corpo neste real que, mesmo tropeçando em conquistas parciais galgadas por esforço desproporcional, mesmo tendo se amarrado em promessas inalcançáveis, desvela este muro de imagens sem matéria, que enlaçam de objeto a sujeito. Mas nem todo laço é um nó, e nem todo café é espresso, tirado na quente pressão do maquinário fabril de resultado êx-timo. Existe uma inquietação en-corpada, uma ebulição de desejos que pulsam como as nuances de um cuidadoso filtrado escolhido, colhido e torrado sem escala, porém preparado por mãos carinhosas.

Sabores e aromas que, na sua crueza, nada se parecem com as ilusões hollywoodianas vendidas a preço da vida, nem com as amargas aventuras regadas a dívidas disfarçadas em colheres de adoçantes. São apenas simples delícias degustadas na mais bela companhia, com o mar, com o vento ou na mais simples manhã curitibana, fria e ao mesmo tempo inquietante, em movimento vivo, único como algo da mais complexa sabedoria, para desbravar a cada xícara. Sim, somente mais um café, por favor.

Daniel R. Branco

 

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O Inimigo mora … ? A Polarização e a Morte do Pensamento Coletivo
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Um Mergulho Profundo na Polarização

Muito antes destes turbulentos dias atuais[1]  aumentarem ainda mais a insegurança em relação ao futuro, já se avistavam os sinais de uma grave polarização de opiniões, facilitada por toda a crise política e econômica dos anos anteriores. Este artigo não tem como objetivo apontar culpados ou enveredar na direção de um julgamento político, pelo contrário, pensamos em realizar um mergulho em direção às profundezas dos mecanismos mais básicos da psique humana que possibilitariam a criação e divisão dos discursos correntes em dois polos cada vez mais distantes entre si.

Antes de nosso primeiro mergulho, precisamos averiguar a superfície, ou seja, o que podemos enxergar de mais manifesto sobre este fenômeno sem precisarmos adentrar em um meio diferente do nosso usual.

Por definição, a polarização é um conceito físico aplicado a ondas eletromagnéticas, mas com uso cada vez mais frequente no aspecto social e político. Neste sentido, se trata do direcionamento da atenção, ações e opiniões para lados opostos, em uma polarização como positivo x negativo, ou norte x sul ou direita x esquerda. De fácil utilização, esta manobra é eficaz, tendo em vista que não é de hoje a tendência humana de criar lados – polos – a serem vistos como opostos, visões de mundo ou de moralidade a serem combatidas, dogmas a serem eliminados por sua diferença daqueles aceitos por um grupo dominante. De novo, isto tudo não tem nada…

Mas, os tempos passam e a tecnologia sim, inova a cada dia. Vista como o ferramental que atravessa a experiência humana, ela tem sido, cada vez mais, aplicada ao comportamento. Área onde evoluiu, indubitavelmente, tanto em alcance (internet e redes sociais) quanto em profundidade de atuação (o maior entendimento da mente humana aplicado ao Marketing). Neste sentido, sua atuação fica ainda mais pungente quanto mais alinhada está com elementos estruturantes de nosso psiquismo, ou seja, com processos que são parte de nosso funcionamento normal, necessários, mas que com o conhecimento certo (??) podem ser uma poderosa ferramenta de persuasão de indivíduos e massas.

Neste caso, o que está em jogo quando falamos em polarização do pensamento? Bem, para isto, precisamos começar – do começo – e nos prepararmos para o primeiro mergulho de averiguação das águas.

Um dos pais das Relações Públicas, e grande influência no Marketing, foi o Austríaco/Norte Americano Edward Bernays que, não por coincidência, era sobrinho de Freud. Não coincidência porque as práticas de Bernays utilizavam o entendimento do psíquico para o avesso da ética psicanalítica, ou seja, utiliza o entendimento de estruturas básicas do funcionamento mental para a manipulação e direcionamento da opinião pública.

Bernays, descobriu o quanto informações direcionadas poderiam influenciar o comportamento das pessoas, assim como seus medos e desejos podem ser aliados do mercado quando utilizados para mudar a relação de consumo: da necessidade para a compra pelo simples desejo. Sim, embora pouco conhecido, ele foi um dos precursores desta mudança nos padrões de consumo, gerando o que hoje chamamos de consumismo, para resolver impasses econômicos das aceleradas indústrias da década de 1920 (Curtis, 2002).

É com estes princípios que Bernays cria o que seria chamado de “engenharia do consentimento” (Engineering of Consent), conjunto de técnicas que se baseava no entendimento da Psicologia e Ciências Sociais para direcionar a opinião pública a apoiar ideias ou programas, sejam eles para vendas de produtos, ou conceitos políticos e estatais[2].

Mas, isto é apenas para ilustrar como este desconhecido pai do Marketing era habilidoso em seu labor pois, o grande salto que importa para nosso mergulho, está na aliança de sua engenharia do consentimento com as ideias do pensador político W. Lippmann. Este, entendia que havia uma necessidade das massas – formadas por indivíduos não confiáveis – serem direcionadas por uma elite de pensadores que seriam, estes sim, confiáveis para gerir um país de forma “democrática”.

O que escapa ao mergulhador menos atento e ainda impressionado com a mudança de profundidade, é o fato de isto ser exatamente uma subversão da própria democracia. Pois, se esta é exatamente uma forma de governar representando a vontade do povo, alterando as relações de poder historicamente estabelecidas, sua visão oposta seria novamente voltar a um sistema no qual a vontade do povo é governada, novamente, por poucos. Mais uma vez, nenhuma novidade aqui, governos autocráticos são algo tão antigo quanto a organização dos homens em grupos identitários, mas a grande divertida – no sentido militar de divertire: uma movimentação criada para gerar distração – está no uso do conceito de democracia para manter os indivíduos dóceis enquanto vivem sob uma pseudoliberdade: Alienado e impossibilitado de questionar as relações de poder. Um outro avesso, mas desta vez da democracia.

Certamente que uma postura tal como a do paranoico que está sempre sendo perseguido por uma conspiração não é o objetivo aqui. Antes disso, a proposta é utilizar a engenharia reversa para entender como a polarização está impedindo toda uma nação de pensar coletivamente e avançar.

Para isto, precisamos entender, da mesma forma habilidosa que as agências de marketing político o fizeram, quais os mecanismos básicos envolvidos. Conhecer o que nos influencia é um passo a mais em direção à liberdade e ao conhecimento, necessários para voltarmos a pensar de forma autônoma.

Agora sim, é necessário fôlego para começarmos a investigar águas mais profundas.

Em seu livro “Estranhos à nossa Porta” o Sociólogo Zygmunt Baumann discorre sobre os movimentos migratórios em nosso mundo globalizado, identificando na figura do imigrante indesejado, visto pelos habitantes locais dos países de primeiro mundo como um invasor, como o elemento “estranho” para o qual se direcionam todo um conjunto de medos e inseguranças, externalizados em forma de aversão e agressividade. Esta separação propicia a criação de políticas de separação mútua e distanciamento, “com a construção de muros em vez de pontes” (Bauman, 2017).

A facilidade com que este discurso de ódio aos indesejáveis faz eco, independe do grau de instrução dos envolvidos, pois depende, segundo o autor, do grau de autoalienação que se encontram. Neste caso, a insegurança está mais relacionada à instabilidade e incertezas criadas por seu próprio modo de vida, sua condição no mundo atual, do que propriamente pela invasão de imigrantes. Mas, neste turbilhão, o indivíduo acaba sendo pego pelo discurso mais fácil de encarar, tendo em vista ser mais fácil projetar a causa do próprio sofrimento no outro, do que se responsabilizar e contextualizar sua própria condição (Bauman, 2017). Ou seja, ignorar as contingências para seguir uma reação de medo e insegurança, direcionados muitas vezes por discursos políticos que se beneficiam desta posição de separação, ou seja, reforçam sua posição com esta polarização.

Mergulhando um pouco mais nas motivações da polarização, podemos observar a própria tendência a manter reprimidas pressões internas que possam causar conflito ao Ego, projetando seu ódio a um equivalente externo.

Em 1919, Freud escreve O Estranho (Freud, 1919/2010) – no original das Unheimliche – texto no qual define o inquietante, o estranho, como “aquela espécie de coisa assustadora que remonta ao que é há muito conhecido, ao bastante familiar” (Freud, 1919/2010, p. 331), para depois analisar com maior profundidade suas características. Ou seja, o inquietante, aquilo que nos causa estranhamento assim o é, exatamente por ter sempre algo de muito familiar.

Utilizando-se, neste trabalho, de uma obra da literatura de Hoffmann intitulada “O Homem da Areia” Freud aponta diversos temas neste conto que são causadores do estranhamento característico daquilo que é inquietante/estranho, mas que em sua análise demonstra as raízes comuns a este sentimento de estranhamento com a angústia do complexo infantil de castração, as reminiscências do narcisismo primário e secundário, ao recuo a fases da evolução em que o Eu não se encontrava nitidamente delimitado em relação ao mundo externo e, finalmente, àquilo que Freud chama de retorno do mesmo, que seria uma repetição não intencional em série (Freud, 1919/2010).

É interessante pensar que é em algumas produções culturais que desejos proibidos poderiam ser atuados simbolicamente ou, no mínimo, de forma mais branda para o indivíduo. Mas aqui, o que nos interessa, é o uso instrumental destes conteúdos reprimidos direcionados a um outro, externo, como por exemplo, o homofóbico que está, na verdade, tendo grandes dificuldades de lidar com seus próprios desejos sexuais conflitantes, mas precisa – para se defender destes próprios desejos – direcionar seu ódio para o mundo externo, para outros que representam seu próprio conflito interno.

Novamente para entender o que está na base deste processo, precisamos dar um último mergulho aproveitando o fôlego que ainda resta ao leitor.

Utilizando a expressão grega Kakon para se referir a um “inimigo interior”, Lacan salienta que há na própria constituição do sujeito uma “fatia” indesejada que precisa ser colocada em um local fora da própria consciência, sem acesso ao Ego, por conta da agressividade que pode gerar, sendo assim mantida inconsciente (Lacan, 1998). Este objeto “mal” constitutivo é segregado no interior do próprio psiquismo, o que não o impede de ter efeito sobre o sujeito, efeito este que pode ser visto, à semelhança do que fala Freud em O Estranho, quando o sujeito ataca com sua agressividade no outro aquilo que é seu: Embora inconsciente, extremamente íntimo.

Certo, podemos voltar novamente à superfície para tomar fôlego e enlaçarmos o que foi visto em termos de constituição do próprio sujeito (Freud e Lacan), ou mecanismos de defesa externalizados (Bauman), com a polarização enquanto formação discursiva.

Se pensarmos em termos de Psicologia do Indivíduo podendo ser extrapolada para a Psicologia de grupos, este movimento de “jogar para fora” o objeto de desagrado interno deve ser visto como uma defesa para manter a estabilidade do Ego. Da mesma forma, um grupo, ao apontar no outro lado aquilo que há de mal, ignorando suas mazelas interiores, torna-se um grupo mais coeso. Não é coincidência Freud ter indicado, em Psicologia das Massas e Análise do Ego, que eleger um inimigo externo é uma estratégia extremamente eficiente e muito usada para unificar um grupo, criando assim uma identidade mais coesa e melhor obediência por parte de seus membros.

Isto se parece com algo que estamos observando em nosso cenário político da atualidade brasileira? Acreditamos que sim! Quanto mais polarizado os discursos se encontram, ambos os lados se beneficiam de uma unidade por parte de seus integrantes, menos questionados são e mais forte se transformam a promessas de que se o “inimigo” for derrubado, tudo irá prosperar. O que fica alienado deste raciocínio é exatamente a possibilidade de uma dialetização do discurso, de modo a construir uma solução coletiva aos modos de uma verdadeira democracia. Ora, isto fica absolutamente vedado, pois podemos aqui dizer que a polarização mata o coletivo ao jogar para fora (para o outro lado) aquilo que o grupo (e o indivíduo) não quer ver em si, tornando tudo o que o outro produz um objeto mal, que deve ser ignorado, odiado e extirpado…

Sim, a polarização destrói a possibilidade da solidariedade entre os seres humanos, e o remédio para esta armadilha não é de simples aplicação. Sua aplicação não é simples pois demanda que, ao invés de procurar fora aquilo que odeia, como é a tendência natural que demonstramos, pelo contrário, precisa realizar a difícil – mas não impossível – tarefa de olhar para si e reconhecer o que vai mal, o que precisa ser mudado para, aí sim,  possibilitar que o diálogo entre os polos possa gerar um novo discurso, um novo movimento que seja, este sim, no lugar da separação improdutiva, dê a gênese à integração criadora.

Referências

Bauman, Z. (2017). Estranhos à nossa Porta. Rio de Janeiro: Zahar.

Curtis, A. (Diretor). (2002). O Século do Ego [Filme Cinematográfico].

Freud, S. (1919/2010). O Inquietante. São Paulo: Cia das Letras.

Lacan, J. (1998). A Agressividade em Psicanálise. Em J. Lacan, Escritos (pp. 104-127). Rio de Janeiro: Zahar.

[1] Este artigo foi escrito durante a crise de abastecimento gerada pela greve dos caminhoneiros na última semana de Maio/2018.

* Tema discutido e trabalhado em grupo durante os seminários mensais do grupo de estudo e trabalho em Psicanálise, Structura, em Curitiba.

[2] Vale pesquisar as intervenções feitas por Bernays em jornais para aumentar as vendas de Bacon, intervenções diretas com o público para inserir as mulheres como consumidoras de cigarros e, talvez o melhor exemplo de sua engenharia do consentimento, o direcionamento que fez da opinião pública quando se deu a interferência Norte Americana na Guatemala em 1954.

As duas faces da superação: Seus treinos são movidos por um Ego Forte, ou Frágil?

Texto escrito para o Blog especializado em CrossFit: Hugo Cross e para a Kaluanã CrossFit

Vamos falar sobre CrossFit?!

Sim, mas tam

 

Aqueles mais curiosos sobre a História desta modalidade já devem ter descoberto que ela é permeada por um saudável clima de contracultura, seja pela mudança de foco do estático para o funcional, do saudável no lugar do mercadológico, ações contra a indústria de alimentos e, muito comentado mas pouco notado, pela cultura de comunidade em uma sociedade que nos empurra cada vez mais para o individualismo ou pela motivação à superar-se.

 

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Seja de forma pensada por já estar procurando um estilo de vida fora do mainstream, ou mesmo de forma despercebida simplesmente quando buscava os melhores resultados físicos, estes fatores fazem com que a grande maioria das pessoas que entram em um box de crossfit, criam uma paixão duradoura pela modalidade e sua cultura. Existem vários fatores muito positivos para isto, que certamente causam um bom impacto sobre a qualidade de vida de quem dá o primeiro passo para entrar em um box. Podemos falar sobre estes fatores em outra oportunidade, mas aqui vamos apontar para as duas faces de um deles; das quais uma delas precisa ser desmascarada: As duas faces da superação!

A ideia de superar seus limites é algo a que todos almejam em um bom treino, sentir-se presente fazendo seu melhor, perceber-se evoluindo passo-a-passo. E sim, isto pode ser extremamente produtivo como forma de dar vazão à excessos mentais que o dia-a-dia produz, motivação interna para treinar melhor e até mesmo a alta intensidade necessária para os bons resultados fisiológicos, funcionais e estéticos que todos já conhecem. Por outro lado, quem já entrou em um box de Crossfit sabe que é comum ouvir, ou ler a frase, que diz em letras garrafais: Deixe seu Ego de fora!

Esta frase foi criada exatamente por conta desta facilidade que a modalidade oferece para testar seus limites, mas por conta, também, da tênue linha que existe entre testar-se dentro de uma fronteira razoável e fazer mais do que se está fisicamente preparado no momento. O que podemos chamar de face ruim da superação. A primeira “face” leva aos bons resultados citados acima, já a segunda “face” pode levar a indesejadas lesões e uma vida curta na modalidade que até aquele momento estava lhe fazendo bem.

A imagem é conhecida por praticantes e temida por coaches. Aquele aluno, que ignora totalmente as indicações do Coach para diminuir a carga, ou adaptar um movimento, ou até pior, aquele que desiste no começo dos treinos por sentir-se frustrado por ter que adaptar os treinos. Adaptações (ou escalonamentos = scalling) que o Coach sugere, não por mal, mas porque sabe que estas alterações no formato original do treino (como prescrito, ou RX no vernáculo crossfiteiro) são a base da metodologia, e que sem elas, não há evolução. O resultado comum da falta destas adaptações acaba sendo, em geral, do praticante executando o treino com movimentos sofríveis, se colocando em risco sem nem mesmo perceber isto.

E, sim, não se enganem, pois em bons espaços de treino, os coaches vão insistir para que o aluno diminua a carga, ou faça um movimento mais simples que domina melhor, mas em alguns casos a negativa por parte do empolgado aluno é taxativa. Já presenciei a desconfortável situação do Coach precisar pedir para o aluno admitir que estava assumindo um risco desnecessário, apesar da instrução contrária de um profissional especializado.

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Esta atitude parece ilógica para você? E, é! Mas, vale lembrar que apenas uma pequena parcela de nossa mente opera de forma consciente e racional, sendo que muito do que nos habita passa despercebido e pode fugir à lógica. Se somarmos a isto o contexto no qual vivemos, de uma sociedade que supervaloriza o sucesso acima de tudo e ensina que deve-se mostrar uma imagem forte e invulnerável frente a todos, fica fácil entender que não é um problema de raciocínio lógico, nem uma patologia individual da qual devemos culpar cada um que se recusa a adaptar um treino, mas sim algo que escapa à esta lógica consciente.

Pois, conscientemente, todos sabemos que é preciso respeitar a existência de uma curva de aprendizagem, na qual ninguém começa executando um movimento complexo pelo seu final… Novamente, óbvio, não é verdade? Mas, existe uma armadilha mental, resultante de um conflito interno e inconsciente que gera uma dissonância entre este saber lógico e o fazer/agir na hora do treino. Como um pequeno curto circuito após o 3-2-1…

Vale a pena entendermos melhor como isto funciona! Pois espero que até este ponto esteja claro que o que o assunto de nossa conversa não é algo que acontece apenas dentro do Box, mas sim que permeia e certamente atrapalha toda nossa vida. Como sempre acreditei que o Crossfit vai além de puramente um movimento físico, ele nos surpreende com mais uma possibilidade de atravessar um mal-estar da cultura vigente, mas para isto, é preciso entender melhor o que acontece, digamos, por baixo dos panos.

Para isto precisamos falar um pouco mais de Psicologia a começar pela tão famosa frase, que nos incita a deixarmos nosso Ego do lado de fora do box; ao que alerto, geraria alguns resultados, no mínimo, catastróficos. Pois, o Ego é uma de nossas instâncias psíquicas indispensáveis para que possamos interagir com o mundo. Em linhas gerais, ele engloba nossa noção de eu, de nossos papéis sociais e daquilo que pensamos que as pessoas esperam de nós. Sem o Ego a relação entre mundo interno (mente, pensamentos, instintos, etc.) e o mundo externo, seria impossível. Em paralelo à noção de Ego, o conceito de Narcisismo, segundo a psicanálise, não adquire um tom pejorativo, mas sim denota a relação de construção do Ego, e os investimentos necessários para que seja construída uma imagem de Eu, com a qual atuamos diante da sociedade. O Narcisismo é parte necessária ao desenvolvimento do Ego e faz uma relação importante entre as ligações que fazemos com as outras pessoas mas, se pensarmos em termos de quantidade, uma personalidade narcísica, pode “se atrapalhar” no sentido de tornar o foco no outro algo que extrapola o equilíbrio.  Dito isto, o que provavelmente se quer dizer ao culpar o Ego pela “face malvada” do desafio, seria a alusão a uma personalidade extremamente narcísica e a um ego que, embora cause a impressão enganosa de se amar extremamente (como no mito de Narciso que se afoga ao se fascinar profundamente por sua imagem em um lago), na verdade nos fala de um Ego frágil, que precisa da constante aprovação de seus pares para poder entender-se amado.

Claro, todos precisamos disto em certa medida, mas nos casos de uma personalidade narcísica, estamos falando de uma necessidade tão premente que acaba direcionando as ações do sujeito até mesmo para atitudes que o possam colocar em risco, ou prejudicar sua relação com os outros. Portanto, se fôssemos escrever a frase das paredes de acordo com a Psicanálise, ela seria algo como: Aqui dentro, controle seu narcisismo!

Certo, até aqui já sabemos que estamos falando de um narcisismo em quantidade que gera uma sobrecarga, uma sobra de quantidade que beira a onipotência (pelo menos à ilusão dela). Este excesso gera algo que pode ser chamado de uma exterioridade nesta relação consigo mesmo, ou seja, a necessidade de ser visto e definido pelo olhar do outro, de forma constante, urgente!

Aí mora o grande problema, pois esta excessiva necessidade de ser “bem” visto pelo outro, como alguém forte, capaz, invencível mesmo que apenas em sua fantasia, entra em conflito com um detalhe do desafio, que seria a “face boa”, o SE do desafie-se. Mas, com toda esta pressão cultural e interna (inconsciente) para que o foco esteja em como somos vistos pelo outro, o SE do desafiar-se sobre uma espécie de fading out (desaparecimento), pois a visão de si mesmo pode ficar amalgamada à como o outro nos vê, e que de preferência nos veja como alguém forte, invulnerável.

Na prática, isto faz com que se esqueça que é preciso estar vulnerável para aprender. Não existe outra forma! E, na verdade, as pessoas que mais se desenvolvem, seja no crossfit ou em suas áreas profissionais, são aquelas com grande capacidade para lidar com este período de frustração e vulnerabilidade que a aprendizagem exige. E que continuará exigindo, mesmo com a evolução nos treinos, tendo em vista que a evolução é constante quando o movimento é constante. Aprendemos sempre e sempre estamos vulneráveis, mesmo com todo esforço para provar o contrário.

Outro “equívoco interno” gerado pela exteriorização (aquela do narcisismo em excesso), é a identificação da vulnerabilidade com fraqueza. O que novamente parece óbvio, pois se existe a necessidade de aprovação constante do outro, existe o desejo de mostrar-se como alguém forte, sempre forte! Mas, será que isto passaria pelo crivo da lógica?  Ora, chegar em um local cheio de pessoas, admitir que tem falhas e que está lutando para melhorá-las, lidar com a dificuldade de aprender ou com o tempo necessário para que o condicionamento físico aconteça, dificilmente vai ser confundido com outra coisa além de pura coragem!

Ok, agora vamos tentar ligar os pontos, ou agrupar os movimentos, hora de tentarmos um Full Snatch depois de entendermos as partes separadas: É fácil perceber o tamanho do autoengano que este conflito inconsciente cria, pois ao mesmo tempo que identifica erroneamente como coragem um comportamento que na verdade provém do medo de como o outro nos vê (não poder admitir que tem limitações para não ser visto como alguém que está aprendendo e não perder o “amor” do outro), também nos leva a identificar com fraqueza o estado de se mostrar aprendiz, para de fato aprender e evoluir.

Na prática de um treino de Crossfit, ao cair nestas duas armadilhas, o praticante coloca à frente de sua segurança e do bom desenvolvimento de seus treinos, a necessidade de ser visto pelos outros como alguém que escreveu RX no quadro e se mostrou muito “forte”.

Seria realmente uma prova de força não poder admitir que está em uma escalada para tornar-se melhor, e que esta própria escalada diz que precisará adaptar os treinos e cargas até estar pronto para elas? A Psicanálise nos diz que é exatamente o contrário, pois somente um Ego forte pode admitir suas limitações sem se importar (tanto) em como está sendo visto pelo resto do grupo.

Como nos mostra a pesquisadora da área social Brené Brown: “Longe de ser um escudo eficaz, a ilusão de invulnerabilidade desencoraja a reação que teria fornecido uma proteção genuína”. Qual seria esta proteção? Fazer um bom treino, bem executado, dentro de seus limites sem uma apresentação desesperada de movimentos duvidosos e arriscados, e mais importante, contar com a relação com o outro, uma relação autêntica e genuína baseada na troca, que a comunidade de um box possibilita e está pronta para isto. Corre-se o risco de perder tudo isto pela simples necessidade de provar para os outros que é mais forte, invulnerável, mas também inacessível, criando uma espécie de relação asséptico, parcial com o grupo; pois compartilhar somente as alegrias, ou fingir que a vida é somente feita dos posts de nossos PRs no instagram, não é realmente compartilhar muita coisa.

Portanto, quando bater aquela vontade, que vem de algum lugar que não se consegue perceber no momento, de não adaptar aquele wod do CrossFit Open com movimentos que você ainda não domina, aquela vergonha de fazer menos repetições que os mais experientes ou aquela vontade de aumentar as cargas mesmo quando o Coach disse para diminuir; lembre-se: forte é aquele que admite suas fraquezas para si mesmo e luta para mudar aquilo que pode, pois como disse em um de seus discursos Theodore Roosevelt: “o crédito pertence àqueles que estão por INTEIRO na arena da vida”, e estar por inteiro é ser forte para compartilhar e aceitar suas fraquezas, pois somente assim, na melhor das hipóteses, seremos mais fortes, como indivíduo e como comunidade.

 

Daniel R. Branco

Mestre em Psicologia, Psicanalista e Psicólogo esportivo. CrossFit Level 2 / CrossFit weightlifting / Proprietário da Kaluanã CrossFit em Curitiba.

Os Riscos do Uso de Medicamentos Benzodiazepínicos

Já ouviu falar em medicamentes Benzodiazepínicos?
Você pode não reconhecer o nome, mas certamente já ouviu falar deles por seus apelidos comerciais, como aquele famoso que começa com Ri e termina com: vo Tril
Estes estão entre os medicamentos mais prescritos no mundo e, segundo alguns estudos, os mais consumidos entre idosos e mulheres. São receitados sob as vestes de solução para o sofrimento humano porém, esta promessa ilusória e esta bilionária indústria escondem um fato pouco animador:
Tamponar ou calar o sintoma quimicamente tem seu custo, e pelo que sugere este artigo canadense, é um alto custo.
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Um estudo canadense fez um levantamento da mortalidade de usuários destes medicamentos dentro de uma população de usuários de outras drogas e dos dados são alarmantes.
Embora não seja um estudo feito com a população geral, o estudo trouxe um alerta, pois o uso dos benzodiazepínicos foi associado a um ALTO ÍNDICE DE MORTALIDADE quando comparado às outras substâncias em abuso.
Link para o artigo:
The Impact of Benzodiazepine Use on Mortality Among Polysubstance Users in Vancouver, Canada (2016).

O Último Discurso Motivacional: Conheça sua Âncora!

 

Quem nunca se sentiu desmotivado em alguma função, ou quando estava prestes a começar novos hábitos, mesmo que com o objetivo de trazer algo de melhor ou mais saudável para sua vida? É muito comum nestas horas as pessoas recorrerem à discursos motivacionais da internet, na empresa na qual trabalham, ou mesmo à livros de autoajuda. E todos estes podem até injetar algum ânimo na tarefa, pelo menos por um curto período de tempo.

Esta é uma demanda cada vez mais presente na atualidade, com todas as já conhecidas exigências de trabalho, dietas, prática de atividades físicas, gestão financeira, família, vida social ativa, etc… Enfim, todos os marcadores de performance que a sociedade parece impor, e dos quais surge aquela cobrança interna que diz: pobre daquele que não consegue que todos aqueles indicadores caminhem linearmente para uma ascendente constante.

Diante de tudo isto, é natural que a reação mais direta seja a procura por técnicas de motivação e comportamentos que criem e desenvolvam uma excelente performance em todos estes requisitos, exaustivos ou não, preferencialmente sem grandes questionamentos pessoais. Pensar menos e fazer mais!

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E, de fato, existe uma infinidade de técnicas, sejam de gerenciamento do tempo, gerenciamento de tarefas, autogestão pessoal, ou simplesmente técnicas para manter a motivação que podem até induzir a uma pequena dose de euforia (principalmente quando em um grupo). Como uma pílula de cafeína, um estimulante fácil, direto e barato.

Mas, estas técnicas seriam de fato, eficientes? A resposta não será tão direta como se poderia esperar, e talvez não tão motivacional, pois ela depende da situação. Vamos usar uma analogia para ilustrar isto melhor.

Você é um remador e está em sua canoa, tentando colocá-la em movimento como deseja. Mas, a vida de um remador não é fácil, as águas são voláteis e você percebe que suas remadas não estão fazendo você sair do lugar, ou pelo menos não estão rendendo como você desejaria. Claro, o mercado para os remadores é farto e não tarda a te apresentar pacotes de treinamento com novas técnicas de remada que te ensinarão uma nova e revolucionária postura 50% mais eficiente, assim como um remo de fibra de carbono, melhor e mais caro que seu velho remo de madeira, mas que tem maior superfície de contato com a água, mais leveza e vai duplicar sua capacidade de remar; não se esqueça das vitaminas e suplementos, estes sim vão otimizar ao máximo sua remada e preparar sua mente para colocar sua canoa em destaque de rendimento; garantido! Com todos estes novos implementos, você percebe que sua remada de fato melhorou e até rendeu QUASE como você almejava desde o início. Porém, pouco tempo depois, sua percepção muda e você observa que, novamente, não está saindo do lugar. Mas, não se preocupe, pois o mercado vai te oferecer novos produtos motivacionais para que, agora sim definitivamente, você encontre sua remada perdida.

A experiência e ciência da Psicologia, mostram que os discursos motivacionais ou as técnicas de autoajuda e autogerenciamento, realmente têm duração reduzida. O efeito positivo que é relatado em um primeiro momento, em geral, é resultado mais da autossugestão por estar fazendo (ou acreditando fazer) algo novo, do que realmente advindo de uma real modificação no comportamento da pessoa que busca por estas saídas. Ou seja, gera um efeito de curta duração e circunstancial (atrelado ao novo fazer), mas não um efeito duradouro; este sim, chamado alteração de traço, capaz de gerar uma significativa mudança no sujeito.

Mas, então, tudo está perdido e não há saída para mudar um padrão de comportamento, ou criar um novo hábito em prol de uma melhor qualidade de vida? Não é bem por aí, pois existe uma outra forma de abordar a situação, talvez não tão colorida com as promessas que as abordagens mainstream vão oferecer, mas certamente mais eficiente no médio e longo prazo e capaz de gerar um efeito duradouro.

Ainda adotando a analogia da canoa, o que esta abordagem alternativa vai exigir é que o remador pare por um momento para verificar sua canoa. Verificar o que está acontecendo com ela e com o próprio remador que não estão conseguindo sair do ponto A para o ponto B. Neste caso, verificar a âncora da canoa se torna essencial. E o que se constata é que, em geral, a canoa está, de fato, ancorada.  Isto faz com que mesmo a melhor postura de remada, ou o mais avançado remo, não sejam suficientes para fazer a canoa andar (parece óbvio agora, não?!).

Para entender o que faz com que sua canoa não evolua como você deseja, é preciso que você conheça sua âncora!

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Se você está buscando uma mudança, ou motivação para seu trabalho, esta busca em si já é o  sinal de que há algo incomodando, algo está fora de lugar. Por isto, nestes casos, a reação mais comum (mainstream) é entender que existe algo faltando, algo está em déficit e precisa ser corrigido através de uma nova técnica, medicação ou injeção de motivação para que você possa atingir sua nova posição (sair da inércia e praticar atividade física, deixar a desmotivação para tornar-se o vendedor mais motivado e eficiente da empresa, etc…) ou seja, entender que você precisa melhorar sua remada… Mas, e a âncora?

Aqui a analogia nos ajuda a perceber que o problema não á algo que está em falta, mas sim algo que é produzido pelo sujeito, assim como o desconforto é resultado do conflito que esta produção gera. Qual conflito? É provável que não seja possível desvelá-lo de forma direta, por isto, o mais indicado para lidar com a situação é um serio percurso de autoconhecimento, que pode ser alcançado através de uma psicoterapia bem direcionada. Nestes casos, é essencial entender que se trata de lidar com a real situação, pois conhecer sua âncora significa procurar entender e conhecer de perto o que está te mantendo no lugar, para somente assim conquistar o grau de autoconhecimento necessário para poder decidir como irá prosseguir.

Sim, decidir! Pois algo que a cultura do “quanto mais melhor” impede de pensar, é que existe ainda uma terceira saída: a decisão de não sair do ponto A para o ponto B. Conscientemente é possível decidir permanecer no ponto A, ou então criar um novo caminho para o ponto C. Decidir, consciente dos fatores que estão verdadeiramente envolvidos, é o mais próximo que se pode chegar de algo chamado liberdade. A liberdade de poder escolher, sabendo dos pontos positivos e negativos que cada escolha vai gerar mas, consciente do que está decidindo e de suas “âncoras” internas.

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Conhecer a sua âncora, ao contrário de tentar mascarar a desmotivação com a injeção externa de ânimo, é o investimento pessoal necessário para entender o que está acontecendo que se encontra desmotivado. O que está produzindo esta desmotivação, qual o conflito envolvido e os fatos subjetivos que estão produzindo este “atrapalho” (sintoma).

Conquistando esta liberdade pessoal, é possível sim se beneficiar de todas as técnicas existentes, das tecnologias que suportam o seu fazer e até mesmo, quem sabe, de um auxílio específico de um bom coaching. Mas, para isto, primeiro é preciso a coragem e a ousadia características daqueles que suportam a liberdade de se autoconhecer… Conheça, de perto, sua âncora para quem sabe poder navegar mais livremente pelas águas da vida.

 

As ansiedades / É normal sentir ansiedade?

Você já se sentiu ansioso? Angustiado*? Acredite, isso pode ser um bom sinal: significa que você está vivo!images

É claro que existem níveis de ansiedade que podem não ser saudáveis – e é disso que falarei agora, tomando como base a Psicanálise, e várias indicações científicas atuais sobre o tema. Como vou simplificar alguns conceitos, no final deixarei indicações de leitura para quem for da área e/ou quiser saber mais sobre o assunto.

Sim, parece contraditório dizer que alguém está vivo se está se sentindo ansioso, mas na verdade, a ansiedade está a serviço da autoconservação. Basicamente, a ansiedade, é uma resposta normal, que o Ego (parte da nossa estrutura psíquica) dá a uma situação de perigo, que pode ser interna ou externa.

Portanto, uma ameaça externa é algo fácil de visualizar e entender, mas e no caso de uma ameaça interna, como isto seria? Para responder isto, precisamos pensar em algumas diferenças que nós, humanos, temos dos outros animais que conhecemos.

 

A capacidade Humana de perceber perigos reais e criar perigos simbólicos

O perigo pode ser algo muito real e externo a você, como um predador, ou então o resultado da atividade simbólica (exclusividade do animal humano) que, embora não seja um perigo real que está fisicamente na sua frente, é a possibilidade de que este perigo aconteça e todas as ligações simbólicas que o sujeito irá fazer singularmente de acordo com sua história, com todas as suas experiências de vida, conscientes ou inconscientes.

Se para os outros animais a resposta é mais direta: Presença real do perigo à medo (respostas fisiológicas) à ação (luta ou fuga). No animal humano, além da possibilidade de responder a uma ameaça fisicamente presente e comunicar sobre ela, a linguagem torna nosso processo de resposta muito mais complexo. Mas, aqui você deve estar pensando que sim, você sabe que outros animais também se comunicam. Isto é verdade, porém, a linguagem que conseguem desenvolver é apenas em relação direta ao que estão comunicando, ou seja, você pode ver um macaco sinalizando a presença de um leão, real, presente naquele momento, mas não desenvolvem atividades simbólicas abstratas. O que quer dizer que, certamente, não o verá sentado em sua posição de vigia do bando, falando sobre sua preocupação de que ele não seja um bom macaco e possa mostrar seu valor para os outros do bando caso venha a aparecer um leão, nem em conflito com seu papel social como vigia. Macaco é macaco. Leão é leão… Corra!

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O animal humano é atravessado pela fala (linguagem) de forma mais complexa, possibilitando que a palavra “leão”, possa ser uma infinidade de outras coisas. Desde um perigo real que exige trabalho físico, até um conjunto de símbolos coletivos que podem indicar força, virilidade em algumas culturas, a bandeira da casa dos Lanisters em GOT, ou então um indicador de algo vinculado a uma experiência pessoal, singular a cada um, como por exemplo um personagem de um desenho assistido durante a infância que traz diversas lembranças (Thundercats, Simba?!).

Ou seja, nossa linguagem nos permite criar uma infinidade de referentes diretos e indiretos a uma palavra, criar conceitos e abstrações dos mesmos, mas também nos possibilita planejar o futuro e lembrar do passado e com isto, claro, nos possibilita também que nos preocupemos com eles e com todas as possibilidades que desejamos ou tememos que aconteçam.

Podemos usar como exemplo de perigo simbólico, mais comum para nós que não vivemos entre leões, uma prova de faculdade. A possibilidade de você tirar uma nota baixa e reprovar é, de certa forma, um perigo, uma ameaça àquilo que você acredita que esperam de você, além de poder trazer prejuízos práticos no futuro, como uma reprovação. Portanto, pode ser motivo de ansiedade, embora a ameaça não seja real e esteja ela na sua frente, a prova é apenas uma parte de tudo aquilo que você considera ameaçador, neste caso possibilidades futuras e representações simbólicas; portanto, internos e simbólico.

Em casos onde há sintomas relacionados à ansiedade, ou esta mesma se apresenta de forma constante e desvinculada de contexto, existe ainda a possibilidade de ser um resultado de uma ameaça ainda mais “interna”, pois seria uma reação do Ego (a instância psíquica responsável pela sua noção de Eu, pelo menos da parte consciente) a um desejo ou pensamento que gera conflito. Um pensamento, um desejo que entra em conflito com sua visão de eu, mesmo inconsciente, gera ansiedade. Por exemplo, o desejo de matar um chefe muito chato, pode ser reprimido caso isto entre em conflito com a visão de boa pessoa que o desejante tem de si, gerando angústia. Claro, existem pensamentos muito mais conflitantes e que precisam ficar inconscientes para não gerar ainda mais ansiedade, mas falaremos mais sobre casos patológicos à frente.

Já um perigo físico, real, é mais fácil de imaginar por exemplo se pensarmos novamente em um leão à espreita. Não preciso dizer o tipo de prejuízo que um ataque de leão traria a você, certo?

Os dois tipos de perigo exigem que você tome uma atitude para, de alguma forma, encontrar uma solução e eliminar a fonte de ansiedade. Desviar o olhar e fingir que o problema não existe, como avestruz que “esconde” a cabeça no buraco, só traria problemas. Principalmente no caso de um leão à espreita.

De uma maneira ou de outra, os dois tipos de situação podem gerar uma resposta que seria um aumento significativo de atividade psíquica. Somado a isto, nosso Ego trabalha para manter um nível de energia psíquica constante, e quando alguma situação eleva demais esse nível, temos… ansiedade. O que nos leva ao próximo ponto, que é…

 

Ansiedade descontrolada

Em alguns dos exemplos acima, a ansiedade serve como um incentivo, um desconforto que incentiva você a agir. No caso da prova, uma boa atitude aproveitar a energia que te coloca em movimento para se preparar para prova, mas também compreender que é totalmente normal e esperado estar ansioso, além de reconhecer também que outras pessoas que farão a prova certamente também estarão ansiosas por mais que se esforcem para mostrar o contrário – você não está sozinho – mantendo assim a ansiedade em um nível que te motive a agir, mas não te atrapalhe na ação em si. No caso do leão, a solução óbvia seria fugir para um lugar seguro.

Há casos em que a ansiedade não tem uma motivação clara, ou é totalmente desproporcional em relação ao motivo causador (como por exemplo ter uma crise de pânico por causa de uma prova da faculdade).

A ansiedade patológica, não surge de uma maneira conveniente, ou adaptativa. Ela aparece de maneira inadequada, e gera a sensação para a pessoa que a sente de não ter motivação alguma. O que leva muitas pessoas a procurarem auxílio de medicamentos por entenderem que, se você não consegue apontar o motivo diretamente (como o leão, ou a prova), então o motivo não existe. Mas, é aqui que precisamos lembrar que como nossa linguagem funciona de forma complexa, um leão não necessariamente, é apenas um leão. Portanto, uma crise desproporcional de ansiedade pode ter gatilhos disparados inconscientes que aparentam não existir, mas aparecem de forma clara após um tratamento psicoterápico bem direcionado.

Nesses casos, o mais indicado seria buscar auxílio profissional de um psicólogo para descobrir causas “escondidas” ou trabalhar para retomar um nível “normal” de ansiedade. Não existe uma fórmula mágica para estes casos, o uso de medicamentos traz diversos efeitos indesejados, provavelmente piores do que a ansiedade em si, e a psicoterapia é um processo contínuo e progressivo (como “matar um leão por dia”) mas certamente recompensador no final, quando o leão simbólico não mais se apresenta como uma ameaça.

Nesta época do ano é muito comum nos sentirmos ansiosos, pensando nos desafios que o próximo ano poderá trazer. Espero que tenha ficado claro que é normal, até mesmo necessário, sentir ansiedade em algum grau – e que um profissional pode ajudar em caso de necessidade.

Referências:

  • Freud, S. Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901).
  • Jerusalinsky, A. e Fendrik, S. O Livro negro da psicopatologia contemporânea (2011).
  • Freud, S. Novas conferências introdutórias à Psicanálise (1933).
*Ansiedade e angústia são duas palavras comumente utilizadas para o mesmo fim, definidas pelo dicionário por um grande mal-estar físico e psíquico, estando também ligadas a um sentimento de ameaça impreciso e indeterminado. Freud utilizava no alemão o temo Angst, que pode ser traduzido tanto por angústia, quanto medo, porém utilizaremos a palavra mais comum: Ansiedade.

A Normopatia Contemporânea

Vivemos uma época em que a patologização do comportamento chegou a um discurso extremo que se assemelha a uma espécie de “normopatia”, ou seja, uma extrema necessidade de definir a normalidade, o que é ou deixa de ser aceito pelos padrões funcionais da sociedade; criando como consequência o seu negativo, ou seja, a necessidade de classificar tudo que escapa desta norma definida pela ciência ou outras instituições como, obviamente, patológico… Doença a ser tratada. Tem sido assim com estados de humor, aparecendo aí as depressões e bipolaridades sendo diagnosticadas a qualquer sinal de desvio do “normal”*, e está sendo assim agora, com uma regulamentação que vem da esfera jurídica sobre um possível tratamento da homossexualidade.

Ora, se pensarmos em um ser no qual hipoteticamente possamos separar por completo o corpo fisiológico do “mental”, assim como tentou Descartes e ainda atentam tantas linhas de pensamento; talvez fosse realmente possível definir o que deveria ser um comportamento evolutivo, geneticamente definido e garantido por nossos instintos parece ser possível com nossos paralelos do restante do reino animal.

Porém, não podemos esquecer que, embora sejamos sim pertencentes ao reinos animal, somos um animal atravessado pela linguagem, fazendo com que nosso corpo instintivo (ou pulsional em algumas traduções de Freud, lá em 1915) não tenha um objeto determinado, estanque, quando falamos em relação à sexualidade e também em relação à outras vias de satisfação.

Isto faz com que sejamos, em nossa formação enquanto indivíduos, inicialmente abertos a todas as possibilidades de trilhamentos para esta satisfação instintiva, ou como definiu Freud, o ser humano em sua constituição é Polimorfo. Portanto, mesmo que venha a definir sua satisfação instintiva (ou pulsional) no formato heterossexual, existe em um segundo plano, mais ou menos reprimido por cada um, um resquício da possibilidade de satisfação homossexual. É aí que aparecem os moralizadores com sua irresistível necessidade de caçar ferrenhamente no outro, aquilo que o habita, mesmo que debaixo de muitas camadas.

Concluindo, se em uma ser no qual a satisfação instintiva é definida em seu amadurecimento, mas é em sua cerne polimorfa, mantando as antigas vias de satisfação como possíveis mesmo que reprimidas, ou direcionadas para pequenas fontes de prazer similares (sublimadas), então se falarmos em uma possibilidade do profissional da saúde aceitar a homossexualidade como passível de cura, ele precisa necessariamente aceitar também a heterossexualidade para o mesmo fim. Se, neste contexto, existir uma cura homossexual, pode-se pensar em uma cura heterossexual.

A Psicanálise entende que o sujeito não tem uma forma única e correta de funcionamento a ser definida, e imposta, pelo tratamento. Pelo contrário, entende que o tratamento em si é possibilitar que cada um possa lidar com sua forma própria de lidar com seus desejos. E sim, ela vai ter seus furos, dificuldades e sofrimentos em qualquer uma das possibilidades.

Quem sabe, ao invés de tentarmos desesperadamente “normalizar” o mundo, possamos aceitar cada vez mais as diferenças e entender que elas podem sim, gerar saídas muito criativas para esta arte tão complexa que é o viver.

*O que não implica na inexistência destes quadros, mas que o seus diagnóstico passou por um “afrouxamento” a ponto de qualquer desvio daquilo considerado como normal ser passível de tratamento baseado em medicamentos. Em geral a depressão, a bipolaridade e os quadros infantis relacionados à aprendizagem, passaram a ser medicados não apenas em casos agudos, na medida que todo desvio passou a ser considerado agudo…

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